segunda-feira, 25 de novembro de 2019

A morte de Mozart

Abordarei aqui alguns fatos e lendas evocados sempre que se relata a  morte do grande gênio musical de Salzburg, Wolfgang Amadeus Mozart, nascido a 27 de janeiro de 1756.

O ano de 1791 foi de grande produção musical. Em maio, Schickaneder, às portas da falência, com seu teatro a ponto de cerrar portas, procurou o amigo e propôs-lhe uma ópera. Mozart poderia pedir a soma que desejasse e o empresário 'não faria cópias da partitura'. Contudo, tão logo a 'Flauta Mágica' começou a lotar teatros na Alemanha, o empresário tratou logo de vender a partitura. O único comentário de Mozart foi: "Que miserável"!

Foi durante a composição da 'Flauta' que o compositor sentiu os primeiros sinais de fadiga a ponto de interromper o trabalho febril, intenso, para um descanso em Baden, onde compôs o sublime 'Ave Verum Corpus'. A 'Flauta' foi consumada em julho e estreada em 30 de setembro. Nesse meio tempo, o gênio ocupou-se da 'Clemenza de Tito' e do 'Réquiem'.

Segundo a lenda, Mozart foi procurado por um desconhecido o qual o contratou, em nome de um mecenas cujo nome não poderia ser mencionado. Constança incentivou, como zelosa esposa, o marido a cumprir a encomenda. O desconhecido adiantou 25 ducados, metade do valor pedido pelo compositor, asseverando ser um valor irrisório e que haveria um presente ao final da entrega. Houve uma interrupção na composição do Réquiem, uma vez que Mozart atendeu a incumbência para a coroação do Imperador em Praga, a 'Clemenza de Tito'. Parte para Praga, em 18 de agosto com a esposa e o dileto discípulo, Süssmayer. Foi uma estadia penosa, acamado (hospedou-se na casa dos Dusseks), sob constante fadiga, e, além do mais, a ópera não obteve o sucesso esperado. Em fins de setembro, retorna a Viena, finaliza a 'Flauta', com grande sucesso. O maior proveito financeiro foi, porém,  como já dito, de Schickaneder. Os relatos sobre a condição mental de Mozart, neste período, enfatizam o pessimismo sombrio do mestre. Seus excelentes discípulos, Schack, Süsmayer, os cuidados de sua esposa, nada o demovia de um mutismo impressionante entremeado de lamentos e autocríticas severas. Num dos raros passeios no Prater, em Viena, Mozart garantiu a Constança ter sido envenenado e que o Réquiem era para sua própria morte. Um de seus médicos recomendou que parasse de compor o Réquiem e apenas descansasse. O fato é que parou e melhorou, até frequentou sua loja maçônica onde entoaram sua cantata,  'Elogio de Amizade'. Neste período, foi nomeado Kapellmeister na Igreja de Santo Estevão, excelente colocação profissional. Sentindo-se reanimado voltou ao Réquiem, logo a doença retornou.

A 21 de novembro não deixou mais o leito. Sua maior preocupação agora era a esposa e seus filhos. Seus últimos momentos foram marcados por constantes visitas onde o compositor cantava e entoava passagens do Réquiem. No dia de sua morte, os amigos cercavam-no e cantavam trechos do Réquiem, Wolfgang foi presa de choro convulsivo. O dr Sallaba desenganou a família.

Mozart trabalhara febrilmente no Réquiem, o qual foi completado por Süsmayer (o fiel discípulo e excelente músico esteve em sua cabeceira até o fim). Mozart pediu que Albrechtsberger fosse o primeiro a ser avisado quando ele passasse, a fim de obter vantagem sobre outros candidatos à vaga de Kapellmeister em Santo Estevão (o que veio a ocorrer). Existe a versão de que suas últimas palavras foram para sua esposa: "Não lhe disse que estava escrevendo um Réquiem para mim mesmo"? Expirou duas horas após intensa febre, delírios e tremores, à meia-noite de 5 de dezembro de 1791, bem em meio ao retumbante sucesso da "Flauta Mágica".

Segunda consta, foi feito um molde em cera da face de Mozart, mas perdido. O Barão van Swieten encarregou-se das despesas do funeral, modestamente. O corpo de Mozart ficou exposto em Santo Estevão, revestido do hábito negro da irmandade responsável, visitado pelos principais amigos, Süsmayer, Albrechtsberger, Lange, Schickaneder, van Swieten e Salieri.

Mozart foi sepultado a 8 de dezembro, dia frio e chuvoso de inverno, sendo inumado no cemitério de São Marxer Linier, próximo a Viena (Haydn foi transladado deste para Eisenach). Aqui começa o misto de fantasia e realidade que cercam o enterro de Wolfgang. O tempo impiedoso afastara todos no decorrer do trajeto ao cemitério, somente um cão permaneceu até o final, junto ao coveiro (há uma gravura famosa com este tema). O corpo foi descido à vala comum, às pressas (devido à epidemia de varíola). Não se marcou o local do sepultamento, contudo, outras informações dão conta de que o exame cadavérico revelou uma inflamação cerebral. Os amigos nunca levaram a sério, seja a ideia de um envenenamento ou a lenda em torno de Salieri, este, no leito de morte de Mozart, jurou solenemente, inclusive por escrito, jamais ter cogitado em fazer qualquer mal a Mozart.
Podemos arguir, por que ninguém permaneceu até o final do sepultamento (exceto o coveiro e o cão fiel)? Por que seus amigos maçons não lhe forneceram um sepultamento digno? Por que não se indagou logo onde estava sua cova? Por 19 anos essas perguntas ficaram sem respostas.

Constança, esposa dedicada e amada, acamada no dia do enterro não pareceu ter sabido do paradeiro de seu esposo. A Corte concedeu a Constança uma pensão razoável (um terço dos vencimentos do marido), o que lhe garantiu conforto regular a si e a seus dois filhos (em 1799, vendeu parte dos manuscritos, por 16 mil gulden, ao editor André).

Em 1810, após 19 anos, Constança (em companhia de seu segundo marido, Jorge van Nissen) procurou a sepultura de Mozart, entretanto, Rothmeyer, o coveiro, já falecera. Em 1832, mencionou-se que Constança disse ao rei da Baviera que nunca duvidou de que Rothmeyer tivesse colocado uma cruz sobre o túmulo do gênio. A lenda diz que Rothmeyer sabia da importância daquele morto e marcou o caixão com arame farpado (envolveu-o todo). Passado algum tempo, o coveiro removeu o crânio, o que, segundo as regras legais de então, era perfeitamente legal (as valas comuns, devido à varíola, eram abertas a cada dez anos). Rothmeyer guardara o crânio e o teria legado a seu sucessor, Radschopf. Este deu-o ao dr Joseph Hyrtl, antropologista e anatomista, o qual colocou a peça numa redoma aveludada, com a inscrição: "Wolfgang Amadeus Mozart. Morto em 1791, nascido em 1756. Musa vivat mori! Horaz!".

Após a morte do dr Hyrtl, o crânio foi "redescoberto" no Orfanato Hyrtl, em Modling, perto de Viena, em 1901. O museu Mozart, em Salzburg, exibiu (não sei se ainda o exibe) ''o crânio de Mozart", desde 1842.

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